O futuro da precificação de carbono no Brasil

Entenda como o mercado de carbono brasileiro está se estruturando e o que isso significa para empresas e investidores.

Por Ambitus em 17/10/2025

Imagens - Blog (4).png

O Brasil aprovou em 2024 a lei que cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE), a base do nosso mercado regulado de carbono. O governo estima uma implementação por fases nos próximos anos, com regras setoriais, limites de emissões e comércio de permissões (as “licenças para emitir”). É a virada de chave: deixamos de ter só mercado voluntário para caminhar rumo a um cap-and-trade nacional, alinhado a práticas internacionais.

Lições internacionais: o que o Brasil pode aprender

O Brasil não começa do zero. O mundo já acumula décadas de experiência com precificação de carbono, em especial por meio de sistemas de comércio de emissões (ETS). O exemplo mais emblemático é o da União Europeia, que opera o maior e mais consolidado mercado do mundo. O chamado EU ETS funciona com um teto de emissões, combinando leilões de permissões, alocações gratuitas transitórias e expansão de setores cobertos. Recentemente, passou a incluir o transporte marítimo e vem retirando gradualmente a gratuidade na aviação. O mecanismo europeu é complementado pelo CBAM (Carbon Border Adjustment Mechanism), que taxa as emissões incorporadas em importações de aço, alumínio, fertilizantes e outros bens, reduzindo o risco de “vazamento” de carbono.

Já a China opera o maior mercado em número de emissões cobertas, ainda em expansão. Inicialmente restrito ao setor elétrico, o ETS chinês começa a abranger indústrias de cimento, aço e alumínio. A expectativa é que, a partir de 2027, o país adote tetos absolutos de emissões, sinalizando um amadurecimento do sistema.

A experiência internacional mostra que um mercado de carbono só funciona bem quando tem três pontos principais: um limite de emissões definido e que diminui ao longo do tempo, regras confiáveis para medir e fiscalizar as emissões e, por fim, critérios justos de distribuição das permissões entre os setores da economia, de modo a não prejudicar a competitividade.

Impactos setoriais no Brasil

A precificação de carbono trará efeitos distintos para cada segmento da economia. No agro, o principal desafio é responder à crescente pressão de compradores internacionais por cadeias mais limpas. A rastreabilidade e a redução de emissões se tornam diferenciais competitivos. Ao mesmo tempo, práticas de agricultura de baixo carbono e manejo adequado de solos, representam oportunidades de geração de créditos, que podem ser monetizados.

Na indústria, os setores mais intensivos em energia e com maior exposição internacional como aço, cimento, alumínio e químicos, devem ser os primeiros a serem regulados. Para essas empresas, a precificação de carbono funcionará como incentivo à inovação tecnológica: eletrificação de processos, uso de hidrogênio verde, captura e armazenamento de carbono. 

Já as pequenas e médias empresas provavelmente não serão incluídas de imediato no SBCE. No entanto, sentirão os efeitos de forma indireta, seja pela pressão de clientes maiores que precisam reportar emissões de escopo 3, seja pelo encarecimento de insumos e logística. Para muitas PMEs, antecipar-se a essas exigências pode ser a diferença entre manter ou perder contratos. Além disso, aquelas que conseguirem medir e reduzir emissões de forma consistente terão mais facilidade em acessar crédito verde e linhas de financiamento diferenciadas.

Oportunidades de receita com créditos de carbono

Se para alguns setores a precificação de carbono representa um custo adicional, para outros ela abre novas possibilidades de receita. O Brasil está particularmente bem posicionado nesse campo.

Projetos de conservação florestal, restauração de áreas degradadas e manejo sustentável seguem relevantes e devem ganhar valorização com a maior exigência de qualidade. Na agricultura, metodologias voltadas para captura de carbono no solo, redução de metano em sistemas pecuários e uso de bioinsumos criam créditos com benefícios claros de produtividade e resiliência. Na energia e na indústria, o avanço de biogás, biometano, hidrogênio verde e captura de carbono poderá gerar ativos comercializáveis de alta demanda. Mesmo iniciativas de menor escala, como biodigestores em propriedades rurais ou projetos sociais de eficiência energética, podem se tornar fontes importantes de créditos, desde que sigam padrões reconhecidos.

Preparando-se para o futuro

O cenário brasileiro entre 2025 e 2030 pode seguir três trajetórias. A primeira é a aceleração regulatória, com regras claras, leilões e preço consistente já nos próximos anos. A segunda é uma transição gradual, priorizando inicialmente o fortalecimento de sistemas de monitoramento e a concessão de permissões gratuitas a alguns setores, em linha com o que fizeram União Europeia e China. A terceira é uma imposição indireta: o Brasil pode ser pressionado por mecanismos externos como o CBAM e pelas exigências de compradores internacionais.

Independentemente da trajetória, o recado é claro: empresas que se anteciparem na medição, redução e reporte de suas emissões estarão mais preparadas para enfrentar custos, acessar novos mercados e ainda gerar receitas adicionais.

Conclusão

A precificação de carbono é um instrumento ambiental e também uma política econômica que vai redefinir a competitividade de setores inteiros. Para o Brasil, representa a chance de unir proteção climática a novas oportunidades de negócios, atraindo investimentos e fortalecendo sua posição global.

Quem começar agora terá vantagens claras pagando menos no futuro, ganhando mais confiança de clientes e abrindo espaço para receitas com créditos de qualidade. No centro desse processo está a capacidade de medir, reportar e inovar. É isso que transformará a precificação de carbono de um desafio em uma oportunidade estratégica.

A ferramenta ideal

Para empresas que desejam transformar compromisso ambiental em ação estratégica, o Ambitus oferece uma solução completa para o inventário de carbono. Com ele, sua organização monitora e reporta emissões de acordo com o GHG Protocol, identifica oportunidades reais de redução e garante conformidade com padrões globais de sustentabilidade. Comece hoje a trilhar o caminho para uma operação mais eficiente e alinhada às demandas do futuro.